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6.09.2016

Não faças aos outros...

Esta notícia fez-me pensar. Sempre comentaram o meu peso e acho que é inegável que isso tenha tido efeito na imagem que tenho de mim própria. Nem sempre é a intenção que conta, porque sinto que muitos dos comentários que fazemos não são para magoar os outros: são meras observações ou até uma maneira desajeitada de expressar preocupação e de dar uma motivação extra. Porém, podem magoar, podem prejudicar, podem não ter o efeito desejado. 

Muitos dos nosso comportamentos/atitudes não são pensados. São a nossa forma automática de reagir/sentir de acordo com o que nos foi "passado" e daí ser tão complicado ter noção daquilo que fazemos e das suas repercussões... Esta notícia fez-me pensar que: 

- Hei de arranjar maneiras produtivas de ajudar a minha filha a levar um estilo de vida saudável; 

- Irei tentar fomentar-lhe a auto-estima ao ponto de gostar de ter atenção e não de precisar; 

- Não utilizarei informação que ela me tenha passado em momentos vulneráveis contra ela;

- Não irei implicar com namorados e afins, irei tentar respeitar ao máximo as suas escolhas; 

- Tentarei sempre explicar-lhe o porquê de cada regra para que ela perceba que "tudo" tem o seu motivo; 

- Quando não houver motivo não digo "a mãe é que sabe", mas tentarei expressar o que me vai na alma: "filha, a mãe fica muito nervosa se fizeres isso e não vai conseguir dormir", sei lá!

- Não me zangarei com ela por ter más notas, tentarei ver com ela soluções para a ajudar a ganhar método, gosto, responsabilidade ou até maneiras alternativas de interiorizar a matéria... 

- Não lhe farei queixinhas de pessoas em comum, deixarei que ela construa a sua opinião;

- Tentarei perceber o porquê das suas opiniões e ouvi-la; 

- Não terei interesse em que ela faça "boas acções" obrigada, mas sim explicar-lhe a importância de viver em sociedade e de retribuirmos o amor e respeito dos que nos rodeiam; 

- Trata-la-ei com a confiança merecida, independentemente da idade. 




Claro que isto na teoria é muito fácil. Sei, porém, que o primeiro passo para que as coisas possam acontecer é tentar elaborar, parar para pensar nos nossos objectivos. Foi o que fiz. Querem fazer as vossas reflexões por aqui também? 

4.27.2016

Alguém anda com a mão demasiado leve...

A Isabel é uma fofinha, olhos doces, super carinhosa ao ponto de beijar os cães de alto a baixo, toda abraços, mas anda numa de bater. Bate-nos a nós, bate na mesa, bate no que estiver mais à mão nos momentos de contrariedade e frustração. Sei que é normal, que faz parte do crescimento, mas por vezes é-me difícil lidar com a situação.



Não lhe bato de volta porque - já expliquei aqui - não me parece lógico mostrar-lhe o mesmo comportamento, se lhe quero explicar que não se deve bater e porque violência gera violência. Além disso, não me é natural. Apesar de me roer toda por dentro, não quero magoá-la. Tento ajudá-la a passar aquele momento de zanga, mostrando-lhe empatia. "Sei que estás zangada, a mãe percebe, mas não se bate. Tautau nunca. A mãe não bate, o pai não bate, a avó não bate. Ninguém bate. Somos todos amigos. Só beijinhos, festinhas e abraços." Às vezes, só falar, de forma calma, não resulta e digo-lhe que fico triste com a situação, faço cara feia, digo que aquilo me faz dói-dói e que a mãe gosta e fica contente é com beijinhos. Resulta quase sempre num abraço e numa festinha que ela me dá e lá se acalma. Mas não resolve. No dia seguinte, está a fazer o mesmo. O que eu queria mesmo era que ela deixasse de bater efectivamente, mas eles, com dois anos, não estão preparados para processar as emoções, de forma controlada, pelo que vou ter de esperar. Respirar fundo e pedir, aos céus e a mim própria, muita paciência.

Ora, fez-me bem ler este texto do blogue Parentalidade com Apego, que de vez em quando vou espreitando e de que gosto muito, para perceber até as razões fisiológicas para o ato de bater. Adorei a questão da "tampa" no cérebro, o modelo cérebro-mão e de relembrar (como eu adorava as aulas de psicologia do 12º ano!) o córtex e o sistema límbico. A questão do desenvolvimento dos sentimentos mistos é super, super interessante. "Só a partir dos cinco anos de idade é que córtex cerebral começa a desenvolver-se o suficiente para que a criança comece a ser capaz de sentir estas duas coisas opostas e aparentemente contraditórias ao mesmo tempo: detesto-te neste momento mas sei que gosto muito de ti e não te quero magoar. Então tudo que precisamos de fazer é dar-lhes tempo para chegarem até aqui", pode ler-se.

É um texto grande, mas vale mesmo a pena. Caso estejam a passar pelo mesmo, leiam e pode ser que até encontrem alguma ajuda para ultrapassar esta fase. :)

4.11.2016

Fazes tu e... e...!


Sempre que tenho capacidade para tal, tento que seja a Irene a fazer as coisas dela. Já vos contei que a deixo - dentro de alguns limites - escolher a roupa dela, mas ando a tentar alargar o círculo. Há um que ainda ontem me apercebi que continuo muito Nazi: deixá-la comer sozinha. 


Ela come a fruta sozinha, mas o resto confesso que ainda me deixa com calores. Ver tudo a acontecer demasiado devagar e saber que existe só um pequeno intervalo de tempo em que ela está disposta a comer, dá-me urticária. 


Além disso, sopas e arrozes e afins... Ui! Se tivesse um cão, acreditem que já tinha deixado que ela chafurdasse que nem louca, mas assim... faz-me confusão!

Sei que a miúda já devia ter tido liberdade para comer sozinha e que, se assim fosse, por esta altura, já tinha a perícia para comer arroz chao-chao com pauzinhos melhor que eu, mas nunca nenhum jantar me parece a melhor altura para ter que assistir ao espectáculo e ainda ter que apanhar as canas a seguir.  

Como diz uma amiga e bem: "fazes bem, ela depois aprende na creche e as professoras que lidem com isso". Ahah 

De resto, ando a dar o meu melhor para que ela se sinta crescida e responsável pelas suas coisas. Como puderam ver acima, desta vez foi o creminho pelo corpo todo. Estava menos frio que o costume, pus uma toalhinha no chão e enchi-lhe o corpinho de creme. Depois tinha só de espalhar as bolinhas...

Acho que se vê pela cara a vaidade e o orgulho.

Tenho de ganhar coragem para a comida...


*Quando a Irene era mais nova, fiz imensas vezes experiências blw e adorei, mas sopa e arroz não são mesmo a minha ideia de um jantar bem passado... ;)

2.04.2016

As duas melhores horas.


Aqui a Irene quando ainda não se sabia sentar, tão querida. Apanhei agora esta fotografia no disco externo e quis mesmo partilhar convosco. Parecia ainda não ter ossinhos, o meu franguinho. 

Queria contar-vos uma coisa: para quem já nos acompanha há algum tempo queria só sublinhar a minha aparente bipolaridade. Conheceram-me pessimista, nervosa, irritadiça e etc. e agora, reparo, que ando tão feliz e tão contemplativa que isto já deve enjoar algumas alminhas. Eu sei como é "estarmos noutra onda" e, na mesma, termos de levar com "a cena dos outros". Ainda esta semana aconteceu lá na rádio - tenho colegas mais novas que eu - quando lá foi um artista que deixou uma delas (a minha preferida) toda excitadinha, sem conseguir quase falar e eu estava completamente indiferente. Se não gostasse dela como gosto, ter-me-ia enervado (em tempos) ao ponto de ficar a pensar nisso o dia todo enquanto a ouvia a dar berros histéricos e a dar saltinhos como se tivesse um bocadinho a mais de candidíase. Não sermos felizes dá-nos cabo da cabeça - claro que não é assim tão simples. 

A Irene durante esta semana ficou metade do dia com os avós paternos porque o Frederico teve um trabalho em que teve de se ausentar todas as tardes. Isso fez com que parecesse que o tempo que tinha com a Irene parecesse menor, vá-se lá saber porquê. Hoje, quando cheguei a casa (eles tinham ido ao jardim), aproveitei e, em 10 minutos, fiz o essencial: vestir o pijama, arrumar a loiça suja que tinha trazido do almoço (sou daquelas que leva a comida de casa que não sou rica) e preparar a roupa para o dia seguinte. Pensei: agora não trato de mais nada da casa enquanto a Irene estiver acordada (tive de fazer sopa, pronto). 

Senti que nunca me tinha sentado sem nada para fazer a seguir com ela. Ensinei-lhe imensas coisas. Arranjei festas de aniversário para todos os bebés (nenucos e imitações) que temos cá em casa, cozinhámos imenso na cozinha dela e ela deu maminha a todos antes de irem fazer ó-ó. Também nos divertimos a fazer pipocas e a ouvir músicas. Perdoem-me a expressão mas "caguei" no telemóvel, desliguei a televisão, escondi o ipad e foi excelente. Parece que hoje tive muito mais tempo para ela e que vi o quanto ela cresceu e o quão capaz está de se fazer entender, tudo. 

Sugiro que façam isto também. Borrifem para o telefone um dia destes e para a lida da casa (um dia só) para verem a diferença e depois façam uma escolha informada. Pode mudar a vossa vida. 

Eu adorei e vai ser a repetir. A sério que sim. Sinto que estive presente. 

1.18.2016

Como lido com as birras?

Sim, "a procissão ainda vai no adro". 
Sim, "vai piorar". 
Sim, "ainda vou morder a língua".
Sim, "tenho de esperar pelos dois anos. E pelos três."
Sim, "vou ver como elas mordem quando vier a irmã."

Sim, admito que ainda não sei nada. Sei pouco. Que cada criança é uma criança. Que cada um gere as crises familiares à sua maneira, de acordo com o que sabe e acha melhor. Mas, assumindo que não tenho experiência nenhuma com uma criança de dois anos e três anos (só tenho a experiência de uma criança de 22 meses), posso dizer-vos como lido com as birras da Isabel.




Não a ignoro.
Não grito.
Não desato à gargalhada. 
Não fico em pânico.
Não fico envergonhada.
Não lhe bato.
Não a imito, a gozar.
Não a ameaço.
Não faço birra.
Não lhe digo que ela é feia, nem má, nem um terror, nem que está impossível.
Não a ponho de castigo.

Respeito-a. Encaro como uma fase normal. Dura, difícil para nós, mas principalmente para eles. Para mim, fazer birras é bom sinal. É um sinal saudável de que ela tem emoções, vontades e necessidades. Está a desenvolver a sua personalidade e não sabe expressar-se de outra forma. O único entrave às vontades dela está a ser colocado pela mãe ou pelo pai. Mandar-se para o chão, chorar, tentar bater, mandar coisas para o chão está a ser a forma - a única que ela conhece - de expressar o seu desagrado. Não é nada contra mim nem contra o pai. É a frustração a falar mais alto. 

Falo com ela de forma calma.
Ponho-me ao nível dela. 
Às vezes dou-lhe festinhas.
Às vezes isso enerva-a mais e eu paro.
Digo-lhe que vai passar.
Tento abraçá-la.
Não lhe faço a vontade. 
Converso com ela. Explico.
Tento desviar-lhe a atenção para outra coisa.

"Filha, não podemos ficar mais a brincar no parque, está a ficar frio. Se apanhamos frio, ficamos com dói-dói e atchim. Em casa, podemos encher a piscina de bolas! Fazer uma chuva de bolas. Também vai ser divertido."
Passou. Às vezes não explico minuciosamente. Digo que não pode ser, mas tento logo canalizar a atenção dela para outra coisa. 
Não ganho nada em alimentar a frustração dela. Se gritar com ela, estou a deitar achas na fogueira. Se bater, estou a destabilizá-la ainda mais. E o que eu quero? Que a estabilidade volte. Que ela se acalme. 

Há quem diga que não temos de explicar tudo. Que "não é não". Mas, para mim, isso é pouco normalmente. Não quero que me veja como autoritária. Quero conquistá-la. Quero que confie em mim. Geralmente dou-lhe exemplos e modelos, que ela, devagarinho, vai compreendendo. Não queres vestir o casaco? A mãe tem um vestido, o pai também e até podemos vestir um ao cão. Tem de ser. Chora um bocadinho, às vezes não chora, às vezes tenho de forçá-la a vestir-se, mas passa. Acaba por passar.

No outro dia, perante uma birra da Isabel no cabeleireiro, uma mãe disse-me "ui, a minha comigo não faz farinha". A minha faz. Espero que faça pão, até. Não lhe faço as vontades, não volto com a palavra atrás, mas tento ser paciente. Não ganho nada em ser agressiva. Eles são o reflexo do que vêem e do que sentem. Não vamos juntar à árdua tarefa de crescer os nossos stresses. Nós temos o dever, enquanto adultos, de tentar controlar os nossos nervos. Eles não, estão a aprender a gerir tudo.

Sim, muito provavelmente vai piorar. Sim, muito provavelmente vou morder a língua. Sim, vou descontrolar-me algumas vezes, sou humana. Mas, para já, é assim que tem sido. E, até agora, tem resultado com a Isabel.

Coragem!