12.25.2017

Ao meu padrasto.

Lembro-me. Lembro-me quando te comecei a conhecer. Lembro-me daquele dia na praia e de uma bola colorida que ainda, por vezes, me colore os olhos. Lembro-me perfeitamente das brincadeiras de minutos, meias horas, até eu acabar de lavar os dentes. Os fantoches todos: o zé das couves, o diabo belzebu, o polícia, todos. 

Lembro-me perfeitamente das milhares de vezes que me foste buscar e pôr à natação, a todo o lado. Lembro-me de brincares comigo, tanto. De me ensinares a escrever, de contarmos histórias nossas cheias de aventuras. Somos os Jotas em busca do lingote de ouro. Somos os Jotas dos jogos de cartas, dos trabalhos de casa, das revisões de matéria para os testes. 

És com quem mais falei quando precisava. És quem falou por mim quando não pude falar. És quem, no meio de tudo, lá estava para fazer uma piada ou para brincar comigo a dizer que eras dos Excesso ou mostrando-me o cartão de sócio do Benfica acreditando eu que eras jogador de futebol e tendo contado à escola toda. 

Lembro-me do maior elogio que já alguma vez me fizeste e acredito em tudo o que tu dizes. És, sem dúvida, o maior pedaço de família que tenho, o que tem mais coração, mais certeza, mais serenidade.

Abraçaste-me (mesmo sendo, para ti, os abraços algo tão esquisito) como se fosse tua filha, com tudo o de mau e de bom. Com as minhas rebeldias, as minhas parvoíces, os meus sentimentos, tudo. E foste meu pai. És. 

Amor incondicional.

Salvaste a minha imaginação. E foste tu quem, tipo maestro, deu o seu melhor todos os dias para que a música nunca deixasse de tocar em mim. 

Quero agradecer-te como nunca irei saber fazê-lo por seres tão importante. Por teres aparecido, teres sido escolhido e por, sem me escolheres, me teres amado tanto. 

É inevitável ver-nos quando brincas com a Irene e tu és amor em pessoa. Amor e cuidado. Que sorte que tive por tu e a minha mãe se terem apaixonado um dia. Ganhei-te. 

Tu ouviste-me sempre. Desde pequenina. 

Obrigada. 

Não escrevo como o Pessoa (mas foi mesmo o melhor elogio que alguma vez recebi), mas espero ainda ir a tempo de te fazer sentir a Pessoa que tu és para mim até ao final dos nossos dias.

Feliz Natal, João. 


Toma uma fotografia de um pão porque sei que gostas muito :)

4 comentários:

  1. Que lindo!!! Por mais saudáveis que as relações sejam entre filhos/padrastos ou madrastas, o que tu descreves está a um outro nível...

    Muitos parabéns ao João pela relação que construiu contigo e muitos parabéns, a ti Joana, pela maneira como aceitaste (sem barreiras) uma 2a relação da tua mãe.

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  2. Ai...até fiquei com lágrimas nos olhos. Deve ter sido o melhor presente de Natal que o seu padrasto recebeu...

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